Revista Espaço Aberto da USP, em sua edição 143 apresenta entrevista com Profa. Ana Fani A. Carlos.

Professora da FFLCH dedicou a vida aos estudos relacionados ao espaço urbano

Ana Fani Alessandri Carlos, professora titular do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), é uma mulher ativa, de grande participação na Universidade em que começou a estudar no ano de 1971. Nascida em São Paulo, no bairro da Barra Funda, de família italiana, casada com um economista e sem filhos, Fani sempre se ligou à cidade em que nasceu, o que ajudou na escolha de seu caminho para estudar o espaço urbano.

No ano de 2012, a professora recebeu um dos prêmios mais importantes da área na qual atua, o “Prêmio Internacional de Geocrítica”. Este é apenas um dos frutos de uma vida toda voltada para a geografia e o estudo do espaço urbano. Além desse prêmio, a professora já recebeu uma menção honrosa do Jabuti e diversas outras homenagens.

Todo esse reconhecimento é fruto de um trabalho teórico complexo sobre a geografia e especialmente sobre os desdobramentos urbanos na metrópole de São Paulo. Fani coordena grupos de pesquisas como o Gesp (Grupo de Estudos Sobre São Paulo), chefiou o programa de pós-graduação em Geografia Humana da FFLCH, orienta teses. Todo esse trabalho visa a uma construção e um respaldo da chamada metageografia, que seria uma geografia voltada para realizar uma crítica do mundo moderno.

“Dou aula há 30 anos. Sou uma professora entusiasmada, eu preparo minha aula, estudo para dar aula”

Em meio a tantas pesquisas e projetos, a professora procurou sintetizar e organizar seus conceitos em diversas publicações e livros. Sendo os mais importantes Espaço-Tempo na Metrópole, A Condição Espacial e A Produção do Espaço Urbano.

Quando adolescente, estudou no Colégio de Aplicação Fidelino de Figueiredo (colégio ligado à Faculdade de Educação), o que, segundo a geógrafa, fez total diferença em sua trajetória de vida. “No Colégio de Aplicação tínhamos uma formação humanística muito importante, de alta qualidade, nos davam uma fundamentação na direção das ciências humanas”, conta.

Tendo finalizado a graduação, começou o mestrado no ano de 1975 e, posteriormente, o doutorado em 1980, sendo todos esses estudos voltados para a análise do espaço urbano. “Quando entrei na Geografia, ouvia os professores dizerem que o espaço é o objeto de reflexão da geografia, mas não entendia exatamente o que era o espaço. Então, o que me moveu a vida inteira como pesquisadora na área foi elucidar como se constitui uma leitura da sociedade através do espaço”, explica Fani.

Em 1982 começou a dar aulas na graduação do Departamento de Geografia da FFLCH com as disciplinas Geografia do comércio e Fundamentos da geografia e, mesmo com o trabalho como pesquisadora e escritora, não deixou a docência de lado e leciona na graduação e na pós-graduação, completando este ano 30 anos de docência. Fani destaca a importância dessa função: “Acredito no fato de que o professor tem um papel de formação da cidadania. Você se torna cidadão quando exerce sua liberdade e acho que a universidade é lugar de exercício dessa liberdade”. A professora se diz ligada à docência desde cedo: “Ser professora foi algo natural, brincava de ser professora quando criança. O ambiente da Geografia só reforçou uma tendência natural de dar aulas”, conta.

Prêmio Internacional de Geocrítica é um dos mais importantes da área

Na trajetória de Fani, destacam-se os estudos e o trabalho no exterior. Em 1989, foi incentivada pelo professor Nilton Santos a fazer pós-doutorado na França. Acabou realizando dois trabalhos: em 1989, na Universidade Paris-5 Descartes e em 1992, na Universidade de Paris-1 Sorbonne. Fani explica por que a França foi o local ideal para os trabalhos de pós-doutorado: “A Geografia na USP foi fundada por franceses e a linha francesa na geografia humana é muito forte, tenho estreitos laços com essa visão da geografia”.

Por toda essa experiência internacional e pela relevância de seus estudos sobre a metrópole de São Paulo e o espaço urbano em geral, Fani deu aulas no exterior: “Acabei conhecendo vários professores e fui convidada a ministrar cursos no exterior. Os cursos de longa duração eu nunca aceitei, porque minha vida particular me impedia de ficar muito tempo afastada do Brasil”, explica.

Ainda assim, vivenciou diversas experiências enriquecedoras como docente: “Cheguei a dar aula na pós-graduação em Barcelona, além de Buenos Aires e Cidade do México”. A professora conta sobre os temas que abordava: “Todos eles queriam me ouvir falar sobre a metrópole de São Paulo ou sobre a geografia urbana que se faz na USP”. Como a intensa produção acadêmica continua, a professora ainda é muito requisitada: “Recebo convites de várias pessoas para ir ao exterior, para discutir certos temas. O circuito acadêmico tem sido cada vez mais internacional”, conta.

Dentre todas essas atividades, destaca-se o Gesp que, segundo Fani, é um ambiente de estudo e pesquisa sobre urbanização contemporânea, tendo sempre a cidade de São Paulo como objeto de investigação. A professora acredita que formar grupos como o Gesp é algo coerente com sua trajetória acadêmica: “Durante minha vida, sempre participei de grupos de pesquisas. Por isso, acho natural criar um voltado para minha área”, explica. O grupo que começou com ela e seus orientandos em 2000 tomou outra dimensão e agora incorpora professores de outras universidades, além de organizar colóquios, workshops e seminários.

Dedicação ao estudo do espaço urbano rendeu diversas homenagens

O Gesp possui uma editora on-line, criada pelo grupo, que disponibiliza suas publicações no site, para que outros pesquisadores possam ter acesso à linha teórico-metodológica. Segundo Fani, é importante facilitar o acesso ao material produzido pelo grupo: “Nós temos uma linha de pesquisa bem fundamentada. A editora eletrônica dá visibilidade aos trabalhos realizados com essa linha de geografia urbana que só existe como linha no Departamento de Geografia da USP, esse é o motivo”.

O Prêmio Internacional de Geocrítica 2012 só confirma todo o esforço da professora, dos seus companheiros de departamento e de seus orientandos. A ata do prêmio destaca o trabalho realizado, um trecho do documento diz: “Ao conceder este prêmio a Ana Fani Alessandri Carlos, queremos fazer um reconhecimento público da importância desse grupo de geógrafos da USP”. Parece que optar pela geografia foi uma escolha correta na vida da paulista, como reconhece a parte final do documento: “Valorizamos também a abertura de pensamento da professora e seu forte compromisso com a geografia. Além de acompanhar, desde os primeiros anos de sua formação, o desenvolvimento da economia, sociologia e planejamento urbanos, construindo pontes entre eles”.

Publicado em www.usp.br/espacoaberto