Nem arquibancada, nem passarela: a rua é o lugar da revolução! e “O gigante acordou” e está abrindo portas ao fascismo!

Renan Meireles/aluno do Departamento de Geografia/FFLCH-USP

 

Dezenas de milhares de manifestantes em São Paulo bradam em alto e bom som: “o povo acordou!” Mas o que essa frase pode nos revelar? Quem e o que está por trás dela? E, afinal, quem acordou? Na mesma manifestação um jovem levava um cartaz escrito: “Se você acordou agora, atenção, a periferia nunca dormiu.”

Algumas perguntas me intrigam. Na quinta-feira, dia 13/06, o ato pela revogação do aumento da passagem em São Paulo contava com no máximo 20 mil pessoas. Quatro dias após, dia 17/06, éramos mais de 200 mil pelas ruas de São Paulo. E a pergunta, quem são e de onde saíram estas 180 mil pessoas?

Coloco aqui minha opinião e espero a contribuição de todos. Confesso que nos primeiros momentos, quando vi o Largo da Batata e a Faria Lima, tomados por pessoas de todos os tipos, cores e crenças fiquei animado. Afinal, diante do marasmo, qualquer fagulha é fogueira.

Mas a animação foi passageira. Comecei a ouvir os gritos de “fora os partidos”, “orgulho de ser brasileiro”, “o povo acordou” e por ai vai! Senti uma inquietação que me dominava ao perceber que eu era solitário em meio a multidão. Os gritos já não me representavam as faixas e cartazes muito menos. A cada vez que eu via alguém embrulhado na bandeira de São Paulo ou do Brasil lembrava do ascenção de Mussolini na Itália. Mas mesmo assim continuei firme, andei até o fim, até o Palácio do governo do estado, que para muitos seria o lugar do fim, de cortar a cabeça do rei, do governador. Ouvi pessoas bradando frases da revolução francesa e dizendo “se entrarmos queremos a cabeça do rei”. Foi o fim! Tomado pelo cansaço da maratona já não podia suportar as barbaridades que via e ouvia.

Durante os muitos quilômetros que percorremos, mais de 20, vi dezenas de milhares de policiais. Eles não estavam fardados e não possuíam armas de fogo. Estavam alegres, pulavam, traziam cartazes e cantavam o hino nacional. Tiravam fotos uns com os outros, aplaudiam pessoas no Shopping Iguatemi e deliravam ao ver papéis picados caindo de cima dos altos prédios na Berrini.

Em certo momento gritavam: “da copa eu abro mão: quero dinheiro pra saúde e educação”. Minutos depois um dos manifestantes tenta atear fogo no relógio da Copa do Mundo numa das esquinas da Berrini e quase é linchado pelos policiais, quero dizer, manifestantes.

Neste dia não vi a polícia militar impor normas ao espaço público. Os próprios manifestantes faziam isso. Neste dia não vi a polícia militar prender e reprimir ninguém, os próprios manifestantes faziam isso. Neste dia vi cada manifestante fazendo o papel repressor e normatizador do Estado.

Depois destas experiências, parece-me que é viável pensar que quem saiu às ruas na segunda-feira, dia 17/06, foi a famigerada classe média paulistana. Trouxe consigo todos os seus preconceitos, seus modos de pensar, suas ideologias. Foi além disso, trouxe à tona o mundo do consumo e o esvaziamento político próprio da grande maioria dos jovens citadinos. E isso pode até parecer prepotência!

Parece-me que a célebre frase, “saímos do facebook” revela essa juventude, que até ontem estava em frente a uma máquina, buscando o modelo mais novo do tablet ou esperando na fila para comprar o lançamento ipod X.

Para eles a rua era como uma passarela, uma arquibancada ou até mesmo uma vitrine. Cada um queria aparecer com a sua indignação, seu cartaz ou seu grito. Os flashs eram muitos e de todos os lados. As pautas traziam todas as emoções reprimidas de uma geração enclausurada no espaço privado. As pautas revelavam uma geração esvaziada de conteúdos políticos concretos. Uma geração mimada que cresceu sem ouvir “não” e não tinha a menor ideia do que se passava. O que se via era a emoção do jovem que sai de casa pela primeira vez. Bom, mas isso em si não parece ser o maior dos problemas.

A questão a ser colocada é: a enorme quantidade de energia, trazida por essa multidão de pessoas na rua será canalizada para manifestações de fato “progressistas”, concretas e que tragam avanços políticos e sociais no Brasil? Ou essa energia, por vezes inocente, servirá de massa de manobra para a ascenção da direita ultraconservadora?

Espero estar errado, mas ontem na avenida paulista pôde-se ver uma multidão passeando de um lado para outro, e um grupo, grande, de pessoas incitando o ódio, a luta antipartidária, vestindo bandeiras do Brasil, do estado de São Paulo e portando capacetes da revolução constitucionalista. Integrantes de partidos de esquerda sendo agredidos fisicamente e bandeiras vermelhas sendo queimadas.

Nos grupos e clubes militares, chama-se o povo a lutar contra o governo comunista. Grupos neonazistas chamam o povo a lutar contra a corrupção e os partidos comunistas e queimar suas bandeiras.

Parece-me que atrás das bandeiras e máscaras do “não vandalismo” e da “não violência” o conservadorismo reacionário se esconde. Escondido cresce assustadoramente e começa a levar a multidão consigo, multidão esta que anda conforme a música, conforme a ingenuidade e conforme ao que lhe parece mais pertinente. As máscaras muito vistas nas manifestações surgem como metáfora. Escondem o conservadorismo, gestado num país comandado por uma direita  que tenta a todo custo, retirar, por exemplo, as disciplinas de geografia e história do currículo básico. O povo que não conhece a sua história está fadado a repeti-la. A frase de Marx nunca fez tanto sentido pra mim. “A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.”

O sentimento é de que a multidão parece ser levada ao abismo. A rua aparece como passarela e arquibancada de milhões de indignados que não sabe para onde ir, mas vão, ao som do hino nacional e de gritos que vão trazendo o conservadorismo já muito conhecido.

Hoje, sites, jornais impressos e televisivos trazem as seguintes notícias: “Joaquim Barbosa será convidado para disputa presidencial pelo Partido Militar”; “Comissão regulamenta eleição em caso de vacância da Presidência”; “Forças militares prontas para agir com o povo”; “Após hostilidade a partidos e 'pauta conservadora', MPL anuncia fim de atos”; “Manifestantes de Santos 'deduram' vândalos sentando durante protesto”.

Bom, desculpem o texto mal escrito (é o que temos pra hoje, diante das turbulências da vida) e sinceramente espero que esse texto não faça o menor sentido, que seja criticado por todos e que eu esteja errado em absolutamente tudo e que daqui alguns meses eu dê risada lendo-o novamente! 

 

Click no link abaixo para fazer download em PDF